quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

OS LIVROS SAGRADOS TEM RAZÃO?

Os livros ditos sagrados que regem as grandes religiões do mundo reclamam para si o serem detentores de toda a revelação divina, destinada a nortear o viver humano e a desanuviar o pós-morte. Dada a discrepância entre as mensagens reunidas em cada um desses volumes, não se pode afirmar que partiram de um mesmo deus único, absoluto, perfeito e verdadeiro, pois não pode, ele mesmo, ser contraditório. Daí, podemos depreender que essa inconsistência é advinda daqueles que ostentaram ser os mensageiros da verdade divina, e que, se há alguma coisa que possa nos fazer tomar uma dessas escrituras por tal atributo, essa coisa é , não razão.

Pensemos, então, um pouco, a Bíblia – o livro no qual se baseia toda a cultura judaico-cristã. Seus textos datam de milhares de anos, e ainda assim, exercem uma voraz influência na vida das pessoas. Seus sectários defensores alegam que ela é a mais perfeita, pura e irrefutável “palavra de deus” aos homens. Será que não lhes ocorre que ela tenha sido concebida por mentes e mãos humanas imperfeitas, e que dessa forma, estas não poderiam conceber algo perfeito? Bem, se quisermos postular a perfeição desses homens ou sua plena santidade, então, teremos de equipará-los à Divindade, e portanto, admitir a existência de deuses de carne e osso entre nós, do contrário, só podemos compactuar com a idéia de que, ainda que fossem mensageiros fidedignos da Verdade, essas mensagens não poderiam deixar de ser adulteradas pelo espectro temporal da vida particular e do pensamento de seus transmissores, haja vista, a impossibilidade de eles serem perfeitos. Ademais, as únicas pessoas que testificam a veracidade do relato bíblico são seus próprios escritores: o apóstolo Paulo escrevendo a seu discípulo Timóteo diz “esta escritura é inspirada por deus”, objetivando que suas palavras fossem passíveis de todo crédito. Ora, como podemos aceitar cegamente que as orientações vindas de um homem de outro período histórico, inserido num contexto social peculiar, que escreve uma carta destinada a uma pessoa específica, determinem a nossa vida prática, sem termos sequer o direito de contestá-lo? O mesmo se aplica aos outros escritores bíblicos. Vejamos o caso de Moisés: em sua tentativa de descrever a origem do mundo e dos homens, ele conseguiu um feito catastrófico, que perdurou por milhares de anos envenenando e atrasando a história da humanidade, algo que só poderia estar vinculado a mentalidade primitiva dos homens de sua época e não a de um deus Justo e Perfeito. Estamos falando da mulher: subjulgada como causadora do mal (ao ceder a oferta da serpente) e, considerada espécie inferior ou dependente da do homem (ao ser formada a partir de um fragmento do corpo masculino). Reparem o quanto essa concepção privou a mulher do seu status social de igualdade, e como essa alegoria arcaica germinou entre os homens, contribuindo para que não fossem dados voz e vez a ela. O apóstolo, referido anteriormente (centenas de anos depois de Moisés), chegou a dizer que a mulher deveria permanecer calada em certos encontros públicos daquela sociedade. A coisa foi tão degeneradora, que muitas mulheres, em todo o mundo, assimilaram os traços de identidade que lhes foram atribuídas durante séculos , isto é, de  inferiores, de frágeis; quando, de fato, em nada, poderiam representar um subnível em relação aos homens, pois são, ambos, homem e mulher, igualmente plenos humanos; dotados das mesmas características essenciais. Somente agora, há menos de cem anos, depois de sofrer inúmeras injustiças, a mulher é elevada ao patamar de indíviduo soberano e consciente, cidadã do mundo ocidental. Como se vê, as paixões e os desejos mesquinhos de poder dos homens manifestaram-se desde a Antiguidade, mas, com o passar do tempo, esse pensamento evoluiu (apesar de que, permanece retrógrado, ainda, em muitas culturas do Oriente Médio). Outrossim, se Paulo vivesse em nosso contexto social de hoje, talvez ajudasse a colocar uma mulher no mais alto cargo público de uma "nação cristã e democrática" – a presidência, elegendo-a representante máxima dos ideais de justiça e paz almejados por todos  (como temos visto recentemente aqui na América do Sul). Sim, aquele que disse que o homem era "o cabeça" da mulher, e ela, "a submissa", daria , hoje, não só voz a essa mulher, como permitiria que ela fosse a voz delas e deles.
O que estamos tentando enfatizar aqui, é que não dá para desvincular nenhuma narrativa do período histórico no qual ela foi escrita, muito menos do contexto social em que está inserida ou da visão de mundo de seus escritores. Vejam vocês que a “obra canônica” apresenta o “olho-por-olho, dente-por-dente” como a maneira mais nobre e justa do homem lidar com os conflitos de sua época, mas, hoje, trata-se, no mínimo, de uma idéia digna de repúdio. Assim, compêndios religiosos como a Bíblia, o Alcorão, o Livro dos Vedas, a Bhagavah Gita, Shruti, Torá, Livro dos Mórmons, Suna, Avesta, entre outros, só podem ser encarados como uma riquíssima produção literária, alguns, com valiosas referências histórico-culturais; mas incapazes de subsidiar uma interpretação coerente e ajustada ao mundo contemporâneo e suas relações sociais.

Para finalizar, endossamos os pareceres de Fernando Pessoa e Clarice Lispector que respectivamente poetizaram: “Pensar é descrer” e “[Deus], receba em teus braços o meu pecado de pensar”, para dizer que não nos parece racional postular um livro como o supremo registro sagrado da verdade para todos os povos em todos os tempos, que determine as minúcias da vida prática, e que, em nenhum desses textos reducionistas, e desarmonizados com o Todo Universal, possa estar a razão norteadora de nossa busca pessoal e sincera por um vínculo essencial com deus. Além disso, nós temos a mesma capacidade, senão maior, que os antigos, de, também, buscarmos decifrar o grande Enigma. Talvez, antes de aderirmos a este ou aquele livro que se auto-proclama sagrado, devêssemos fazer a mesma pergunta que Sócrates direcionou aos sacerdotes e sábios atenienses de sua geração: “Isso que vocês chamam de sagrado é puro, bom e belo, e por isso é sagrado, de deus? ou, isso é sagrado, de deus, e portanto, puro, bom e belo?”. A resposta implica fatalmente em avaliarmos quem está atribuindo sacralidade a quê, e ainda, enxergarmos sob quais critérios está havendo tal atribuição.

domingo, 19 de dezembro de 2010

A VIDA É UMA DÁDIVA?


Se você estivesse no umbral da criação e tivesse a oportunidade de escolher se gostaria de nascer neste mundo um dia, para aqui existir na brevidade de alguns anos e depois sentir o gosto amargo de ter que partir para sempre, ou, seguir sendo infinito e não participar dessa criação incrível, deste fantástico mundo perceptível, não experimentar absolutamente nada, o que você escolheria? Pense bem: se aqui não viver numa espécie humana, finitamente, não precisará carregar consigo o peso de, num dia qualquer, de súbito, ser tomado de  sua vida particular: das pessoas que amou, dos vínculos que construiu, das coisas que aqui conquistou; ter que abandonar tudo, e simplesmente cair no esquecimento. Ademais, não sabemos se a alma poderá se lembrar de quem ela era? Pois quando se morre, o máximo que se pode ter certeza é de que viramos hipótese. Lembre-se: se você não tiver uma vida não terá problema em perdê-la de uma hora pra outra.   Por outro lado, talvez as adversidades, dilemas e prazeres dessa vida mortal seja uma existência que valha mais a pena do que a contemplação eterna da criação. E aí, o que você me diz?

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O QUE FEZ A RELIGIÃO?

Em algum momento do percurso da história da humanidade, o homem se viu apavorado e frágil diante do mundo ao seu redor, bem como diante de tudo aquilo que não podia ter entendimento. Em busca de sua essência e felicidade, a mente humana criou muitos artifícios de interpretação do mundo e seus fenômenos. Entre eles podemos citar os mitos dos antigos e os oráculos gregos. Desde aquele tempo, houve quem tomasse à frente a tarefa de "manifestar a verdade", sob usufruto da superioridade que tinha, ou dizia ter, mas que, por ignorância da maioria, era simplesmente acatada, sem nenhum questionamento. No caso, a verdade era manipulada pelos sacerdotes que interpretavam as mensagens dos "Espíritos Superiores". Foi, provavelmente nesse período, no qual o desconhecido provocava tamanho pavor, que o homem ergueu "divindades" para si, e a elas dedicaram  práticas exclusivas, que hipoteticamente, agradavam ou acalmavam a ira desses "deuses", circunstâncias  pelas quais o bem ou mal  sobreviriam ao povo. Esses ritos foram, então, passando de pai para filho, mas também, sofreram muitas modificações ao longo do tempo, devido às interações dos povos e a movimentação da cultura, dos costumes e da moral. Entretanto, os elementos básicos de sua fundação e manutenção não se perderam e estão presentes até os dias atuais: poder e domínio (da parte de alguns poucos homens), temor e adoração (da parte dos demais). O curioso é que disso derivam as religiões do mundo, e todas elas promovem, ou dizem promover a elevação ética e espiritual do homem, mas aí vem a pergunta: Por que a religião não tem alcançado seu suposto objetivo?  Não quer ou não pode? Bom, desde os tempos mais remotos, o doutrinamento religioso promove mesmo é muita intolerância àqueles que não estejam engajados e ajustados às suas convicções, o resultado disso são guerras incessantes e muitíssimas mortes. Exemplos é o que não faltam na história: a Santa Inquisição, As Cruzadas,  O Holocausto, A Guerra dos 30 Anos, o terror do Oriente Médio, etc. Será que não vemos que cada uma dessas linhas de pensamento doutrinário intenta monopolizar a Verdade? Talvez tenha sido isso que fez o filósofo britânico, Bertrand Russell, dizer que a religião é como uma doença proveniente do medo e propensa a entristecer a raça humana. Dados esses "grandes feitos" da religião, podemos concluir, por exemplo, que o Cristo histórico não foi o idealizador do cristianisno, uma vez que seus ensinamentos e seu viver inspiravam a libertação do homem em todos os sentidos e sobretudo, o amor ao próximo.  Longe de ser um modelo para a formação do homem íntegro, essa ou qualquer outra religião institucional resume-se em um negócio que pretende revelar com perfeição uma verdade imutável e absoluta, para todos os povos, de todas as épocas, impedindo necessariamente que a humanidade progrida na esfera moral e intelectual, pois acorrenta o homem à , que nas palavras de Kant, é sempre estatutária, isto é, limitada a um povo, e por isso não pode ser considerada como essencial para o serviço de deus, nem ser condição suprema para agradá-lo; constitui-se portanto, em um falso culto, uma falsa adoração a deus. Este mesmo, que nos deu as ferramentas necessárias para o autoconhecimento. Até quando vamos renunciar esse direito e cedê-lo à religião? que, pelo visto, não passa  de uma invenção humana, com potencial efeito negativo sobre a própria humanidade - sim, mais um instrumento de dominação. Agostinho já sabia que a sincera busca pela Verdade não estava no pertencimento a esta ou aquela "facção religiosa" mas numa ânsia de encontrar autonomamente sua própria essência como fagulha divina.

sábado, 4 de dezembro de 2010

O MUNDO VAI ACABAR?

Durante alguns milênios os recursos naturais do nosso planeta, imprescindíveis para a subsistência humana, foram considerados infindáveis. Mas, o desenvolvimento das civilizações modernas, baseado em produção industrial (juntamente ao crescimento demográfico), deixou explícito que a realidade é outra: estão a caminho do esgotamento. A relação do homem com o meio ambiente chegou a este atual estado limítrofe, no qual, iminentes desastres ambientais são a resultante do desenvolvimento desenfreado das sociedades. Tendo em vista que, em todos os continentes, há evidências do quanto as atividades humanas têm provocado alterações na natureza e nos ciclos que garantem a sua harmonia e a sua beleza, e que, as mudanças climáticas são só a consequência primária  dessas ações , embora já demonstrem a grandeza fatídica dos danos causados pelo homem, perguntamos: "o mundo vai acabar"?

A questão dos impactos ambientais revela o controvertido conceito que o homem fez da natureza - um objeto. Pois, como afirmou o filósofo Heidegger, não é tão simples diferenciarmos o sujeito homem e o "objeto" natureza; somos igualmente frutos do mundo natural e dele fazemos parte. Desse modo, ainda que vejamos o mundo a partir da racionalidade, sempre existirá uma fusão fundamental entre a natureza e o ser pensante. Ora, se somos a única parte pensante deste planeta, só cabe a nós mantê-lo habitável, tanto para nós mesmos, quanto para os que virão depois de nós. Ou será que somente "eu" tenho o direito ao ambiente saudável e ecologicamente equilibrado? enquanto nossos descendentes poderão viver em condições precárias ou simplesmente "não viver". Precisamos urgentemente mudar o nosso paradigma de ocupação deste mundo. É um processo que requer vontade política, mas acima de tudo, participação de todos. No ritmo que estamos indo, ou melhor, usufruindo os bens naturais, eles se tornarão escassos em breve. O alto consumismo e o descarte inadequado de resíduos não favorece a realização dos ciclos biogeoquímicos, isto é, a reciclagem natural da matéria., e isso, obviamente, tem reflexo na existência de todos os seres vivos. Alguns cientistas estimam que nos próximos 20 anos metade das espécies  viventes estarão mortas. Isso é um colapso da biosfera ainda mais intenso do que aquele que extinguiu os dinossauros da Terra, só que dessa vez, o homem é seu mentor. Pensando bem, se o homem se eliminar do mundo, este vai continuar existindo, como globo terreste, certo? Entretanto, a parte consciente do mundo (o humano) não vai estar aqui pra conceber essa existência, logo, o planeta não mais existirá, pois não pode ter consciência de si mesmo.

domingo, 28 de novembro de 2010

DE QUE SERVE O TEXTO?


Houve um tempo em que o fazer filosófico estava limitado à oralidade, que o diga, Sócrates (ou Platão e a descrição dos diálogos mantidos pelo seu mestre), mas com o tempo essa primazia no modo de filosofar foi dando lugar a palavra escrita. De modo que, hoje em dia, o homem também manifesta seu pensamento e democratiza seus conhecimentos, teóricos ou empíricos por meio de textos. Além de que, é claro, esse homem deixa conhecer a si mesmo quando escreve, uma vez que, aquilo que se expõe não pode ser desprovido de intencionalidade, ou abster-se das marcas pessoais relativas à experiência de vida do próprio escritor. Em todos os casos, o texto constitui-se em uma ferramenta intrínseca de conhecimento. Ressalta-se, pois, o seu valor, em todas as modalidades: desde os produzidos a simples papel e caneta aos publicados na web por meio de editores de textos; sendo que, ao todo, concretizam um tipo de saber que um discurso oral não poderia abarcar - tamanha a importância que o texto tem para o homem de hoje: tanto no ato de escrever quanto no de ler.  Suponhamos que  Machado de Assis tivesse que deixar todo seu legado intelectual (que efetivamente construiu com suas obras literárias) verbalizado em praça pública, ou obras colossais como: a Ilíada e Odisséia de Homero e Dom Quixote de Miguel de Cervantes produzidas (desferidas) num discurso integral. Quem daria ouvidos? Seriam palavras lançadas ao vento, não seriam? Isso, sem mencionar os textos técnicos, poéticos,  teóricos e muitos outros. Em suma, o texto é um registro documental de conhecimento, e embora haja julgamentos de valor sobre ele, apenas isso, já é o bastante para validá-lo. Digamos que correm em paralelo dois eixos de onde pode descender o saber: de um lado as ações humanas e a comunicação oral ou gestual que as intermedia, de outro, os textos produzidos pelos homens. Assim, podemos postular o seguinte: aqueles que auto-decretam “eu não gosto de ler”, "ler me dá sono" ou "não tenho tempo pra leitura" seriam pessoas que decidiram conscientemente conhecer só a metade do que poderiam. Pois, desta maneira, colocaram-se à parte de um montante de conhecimento só possível por meio de texto escrito.

sábado, 20 de novembro de 2010

A CONSCIÊNCIA É NEGRA?

Quando falamos em consciência negra naturalmente nos referimos à reflexão sobre a inserção dos negros na sociedade brasileira e à sensibilização promovida e apoiada na lembrança de um período, no qual o negro fora explorado e injustiçado inescrupulosamente, ou seja,  a época em que os negros foram feitos escravos. Mas também, queremos trazer à tona um sentimento e uma atitude de humanização entre todas as raças de modo a sobrepujar o preconceito existente ainda hoje. Por outro lado, falar em consciência, inevitavelmente leva a campos complexos e mais profundos, tais como a filosofia. Kant, por exemplo, associou a consciência à ética, dizendo que esta é baseada no fato do homem, a si mesmo se impor um norma, um dever  a ser cumprido por ele, e a isso chamou de "imperativo categórico". Ora, se o ego humano busca necessariamente as vantagens do ego, como o homem não haveria de revogar os deveres que a si mesmo se impôs? Dessa forma, o homem violaria qualquer código ético a fim de, legitimamente proteger seus interesses, não é mesmo? Entretanto, o filósofo alemão postulou que essa ética não seria propriamente ego-imposta mas teo-imposta, isto é, ela seria uma voz divina que emerge da consciência humana. De modo, que se assim não fosse, como se explicaria as vezes em que entramos em conflito e dizemos "estou com a consciência pesada, depois de ter feito tal coisa"? Kant, tambem disse que quando tivermos dúvidas quanto à licitude de nossas práticas seria útil perguntarmos se essa ou aquela ação isolada poderia ser convertida em lei universal, caso a resposta seja positiva, estaríamos eticamente resguardados. Enfim, essa mesma ética racional é que deveria nortear nossas ações em todo tempo, já que ela é inata, e para que a consciência seja de fato humana e humanizada há de se incluir , além de negros, toda e qualquer minoria  eventualmente vitimada por discriminação. Talvez a consciência, nesse sentido, não deva ser negra, antes, totalizadora, integral, ou ainda, multicor, significando que devemos estendê-la a todos os aspectos da vida social.

PS: Esse meu texto foi adaptado e publicado em livro de crônicas, sob demanda de Valdeck Almeida.

domingo, 14 de novembro de 2010

O QUE É SOBRENATURAL?

Na Antiguidade, o homem atribuía ao sobrenatural toda sorte de fenômenos, aos quais não sabia explicar ou dar uma causa lógica, isto é, para os eventos que transpunham o saber humano da época, este homem criava um mito. O mito era passado de geração à geração com a importante função de ocupar uma lacuna do conhecimento. Dessa forma, o fenômeno da chuva já foi tido como algo sobrenatural. Afirmava-se por exemplo: "os anões roubaram o martelo de Thor outra vez. Rezemos para que o deus Thor acumule forças e recupere seu poderoso martelo, antes que as chuvas destruam nossas plantações". Assim foi, até que alguns, como Tales de Mileto (um dos primeiros filósofos que temos notícia), ousaram questionar, buscando respostas mais convincentes para as transformações do mundo natural. Isso foi o precedente de toda a Ciência. E, a partir dela, muitos mitos como esse foram sendo deixados para trás. Por outro lado, o homem de hoje, ainda se depara com fatos e coisas, às quais não consegue explicar racionalmente, e a esses eventos imputa-lhe o título de "sobrenatural".


De certo, são muitos os nomes: psicografia, telepatia, necromancia, levitação, adivinhação, paranormalidade e muito mais, que misturados a sonhos, acontecimentos casuais e coincidências, são postos em conjecturas como "experiência do além" ou "obra dos anjos". Diante disso, perguntamos: "o que é sobrenatural?" Podemos classificar tais coisas desse modo só porque o entendimento humano ainda (isso mesmo, AINDA) não as alcançaram? Pois, como vimos, em tempo, os avanços científicos podem trazer à luz fenômenos, outrora, extraordinários. Não seria ultrapassado demais fazermos tal classificação só por não termos as respostas logicamente estruturadas? E, por último, quem disse que os homens dominam ou são conhecedores de todas as leis da natureza? Já que não nos damos conta disso, se Tales pudesse olhar para o homem moderno, certamente diria: - o mito persiste.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

TUDO SE RECICLA?

Muitas religiões do mundo se baseiam na existência de uma "alma imortal" para responder a questão: o que acontece após a morte?  Só esse questionamento em si já carrega implícito a necessidade e/ou desejo inconsciente do homem de não desaparecer.  Talvez ela seja a resposta para aquilo que está a nos definir enquanto seres humanos, já que, como vimos, é muito mais que características individuais, conjunto de genes, cérebro, etc., ou seja, é algo que está para além da física (leia o post: O QUE DISTINGUE AS PESSOAS....? Ao supor e nomear, então, esse "algo" de alma, algumas religiões consideram que quando o homem morre, essa alma eterna ficaria disponível para habitar um novo indivíduo, isto é, reencarnar; e há crenças que sugerem que ela possa habitar outra espécie de ser, como um coelho ou uma árvore, e ainda, "voltar" várias vezes até alcançar um estado elevado. Sabendo-se que, por dia, nascem e morrem milhares de pessoas no mundo, cabe a pergunta: em que momento o "inventor de almas" parou de emitir novas unidades e resolveu reciclá-las?  Teria sido ainda na época dos homens das cavernas? a partir dos 8 integrantes da família de Noé? ou depois da Segunda Guerra Mundial? Seja como for, parece que a conta não bate. Agora, deixando a questão religiosa de lado, e tratando o tema apenas no âmbito da razão, o que temos é que após a morte, ao contrário do que se pode cogitar, o corpo (ou a matéria) com o passar do tempo, apodrece, sofrendo transformações químicas, contudo ela não desaparece. Ainda que as moléculas se desintegrem, o fato, é que os átomos que compunham aquele indivíduo continuam a existir e tornam a ficar disponíveis na natureza, de modo que, agrupando-se a outros, vão fazer parte de um novo ser, desde um lírio, a uma formiga ou um rinoceronte, certo?  Dado que os "pedacinhos" do morto continuam a existir de outras formas, e a re-clicar indefinidamente, poderíamos dizer que aí, sim, reside o re-encarnar?

sábado, 6 de novembro de 2010

PÍLULA DO DIA SEGUINTE PREVINE GRAVIDEZ (E MATA O EMBRIÃO)?

A pílula do dia seguinte é mais uma engenhosidade humana para o alívio dos conflitos que a própria humanidade concebe. Ops! “conceber” não parece um termo adequado para o assunto em questão, já que o tal medicamento alivia o fardo de uma possível gravidez indesejada. Porquanto, se existirem todas as condições apropriadas, os espermatozóides, após adentrarem a genitália da mulher, saem em disparada ao encontro do óvulo e o fecundam imediatamente. A pergunta é: quem faz uso dessa pílula pode estar cometendo um 'aborto legal'? Pois o paradoxo é muito claro: um método "pré-conceptivo" que é "pós-aplicado".

Pelo visto, nos posicionarmos a cerca do aborto não é tão simples assim. A consciência dos envolvidos no coito desprotegido talvez repouse no fato de não saberem se há um embrião formado até o fim das 24 horas subsequentes ao ato sexual, não é mesmo?  Mas, e se houver? Matar e expelir um embrião que tenha sido formado  há apenas algumas horas não tem problema. Ou tem? Quantos são os que consideram que a vida começa no momento da fecundação? Os médicos garantem que um embrião recém-formado sequer tem um coração. Mas quem pode afirmar qual seria o "instante-já" da vida? A medicina  ou aquele casal que colocou essa possibilidade em curso? Então, quando é que a vida começa?  Seria com duas semanas de gestação?   apenas quando os primeiros sintomas de gravidez são percebidos? somente com o nascimento? A resposta parece não ser fácil. Mesmo assim, nossa concepção sobre quando a vida se inicia vai determinar o que estamos fazendo ao utilizarmos a pílula engenhosa (ou outros métodos de "prevenção").

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O QUE DISTINGUE AS PESSOAS UMAS DAS OUTRAS (E DE OUTROS SERES)?

A ciência demonstrou, no últimos anos, por meio do mapeamento de DNA e o sequenciamento de genoma que a espécie humana é menos diferente das outras espécies do que se imaginava. Ao que tudo indica, a composição dos genes no homem é tão complexa quanto em uma mosca da fruta. Diante disso, proponho nos perguntarmos: “Como posso postular que sou um ser distinto e único?”

Numa resposta apressada poderíamos dizer que as características de cada ser é responsável por essa diferenciação. Mas nessa macroanálise, que características estariam sendo levadas em consideração? A forma física? Isso seria muito simplório para nos definir. Exceto se assumirmos que somos simplesmente, individualmete, um corpo –  em cada detalhe – seus membros, seus órgãos, seu peso, sua altura, seu formato, sua cor. Não adianta. De qualquer forma, isso não é o suficiente. Em essência, tudo, ou toda matéria, não passa de um emaranhado de átomos, certo? Uma combinação magnífica desses elementos químicos - eternos e imutáveis, como intuíra Demócrito. É Incrível como um número limitado de elementos pode dar origem a uma infinidade de seres e coisas. Desse modo, até o cérebro humano é “igual”. A propósito, como é possível, a partir dos átomos que compõem meu cérebro, eu sonhar, lembrar, imaginar ou esquecer?  Uma borboleta que hoje voa livremente pode lembrar-se que  um dia já foi larva? É possível? A ciência nos ensinou que somos os únicos seres racionais. Então, a resposta óbvia é não. Mas o resto ela não diz (ou não consegue dizer): a capacidade de lembrar é própria dos átomos que se agruparam para formar o cérebro humano? Não poderia. Um átomo de carbono vai ser sempre um átomo de carbono - em mim ou em qualquer outro ser.  Então, o que é a racionalidade e onde ela reside? no corpo? nos genes? ou na alma? Pelo visto, parece haver algo mais nos distinguindo como seres.