domingo, 19 de dezembro de 2010

A VIDA É UMA DÁDIVA?


Se você estivesse no umbral da criação e tivesse a oportunidade de escolher se gostaria de nascer neste mundo um dia, para aqui existir na brevidade de alguns anos e depois sentir o gosto amargo de ter que partir para sempre, ou, seguir sendo infinito e não participar dessa criação incrível, deste fantástico mundo perceptível, não experimentar absolutamente nada, o que você escolheria? Pense bem: se aqui não viver numa espécie humana, finitamente, não precisará carregar consigo o peso de, num dia qualquer, de súbito, ser tomado de  sua vida particular: das pessoas que amou, dos vínculos que construiu, das coisas que aqui conquistou; ter que abandonar tudo, e simplesmente cair no esquecimento. Ademais, não sabemos se a alma poderá se lembrar de quem ela era? Pois quando se morre, o máximo que se pode ter certeza é de que viramos hipótese. Lembre-se: se você não tiver uma vida não terá problema em perdê-la de uma hora pra outra.   Por outro lado, talvez as adversidades, dilemas e prazeres dessa vida mortal seja uma existência que valha mais a pena do que a contemplação eterna da criação. E aí, o que você me diz?

Um comentário:

  1. Recebi um comentário bastante enriquecedor por e-mail, que por sua abrangência e conteúdo alarga significativamente a discussão. Apreciem:

    Caro Carlos,

    A felicidade do tema me remete, se me permite, o pensar no que vem a ser “o viver numa espécie humana”? Seria viver simplesmente pelo fato do existir até acabar ou viver o nosso melhor? Se for viver para existir, outras indagações aquietam minha alma. Qual finalidade há de ter, aquele que anda pela sombra ou vive na ausência do compromisso? Passar toda a sua existência, mesmo sendo breve, a espreita da morte, que é o consolo da única verdade sabida, para quem não é imortal.

    Na vida o direito que temos é o de fazer opções, assim minha opção para o dialogo, é viver o nosso melhor, pois acredito que a vida por ela somente, não compensa o tempo gasto, e mesmo que tenha a sua compensação, ira durar somente o breve momento da existência. E com esse pensamento, abraço me em seus questionamentos no referido texto, e amplio nosso dialogo, suscitando que, podemos viver infinitamente.

    Assim recorro a Platão, onde suas idéias auxiliam o rumo do questionamento, norteando minha dúvida. Platão valorizava os métodos de debate e conversação como formas de alçar o conhecimento, assim, um de seus pensamentos, traz amplitude ao tema, "O que mais vale não é viver, mas viver bem".

    Voltando ao argumento apresentado, “nascer neste mundo um dia, para aqui existir na brevidade de alguns anos e depois sentir o gosto amargo de ter que partir para sempre, ou, seguir sendo infinito e não participar dessa criação incrível”.

    Se os nossos olhares duvidosos, permearem o nosso nascer, como vivência passageira, focado somente neste grande e necessário veículo, feito em osso e atulhado de carne. Eu digo que a vida não teria sentido, mesmo que muitos tenham sentido ou não, a ausência de quem, assim viveu e assim partiu. E não creio que seja tão fantástico, se não forem observados com atenção, os liames da criação. No entanto, “viver bem”, segundo Platão. Seria um “ser melhor”, em todas as suas atitudes, em todas suas virtudes, em todas as suas palavras, pensamentos e sentimentos? Digo que assim sendo, o homem se torna imortal. E o que é imortal não tem limite. E o que não tem limite é infinito. Assim podemos estar presentes neste mundo, em tempo breve, no entanto nos tornando um ser feliz e venturoso e fazermos de nossa existência, idéias, que viverão infinitamente. De nossos momentos, lembranças para muitos ou simplesmente para alguns que lembrarem, até mesmo, as nossas atitudes, boas ou não, serão elas citadas. Mesmo depois de termos deixado à existência na brevidade que o tempo nos impôs. Haverá de ser dadivosa esta nossa estadia.

    Muitos homens grandes se tornaram imortais, somente por não aceitarem a pequenez. Agigantaram-se entre tantos outros iguais, simplesmente pelo fato, de terem optado em ser diferentes.

    Acreditar que estamos soltos ao fado, nos leva a negação da existência.

    Um terno abraço, do amigo.
    Orlando Cruz

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