sábado, 20 de agosto de 2011

A NÃO-EXISTÊNCIA

As pessoas que perguntam se eu acredito em deus, o fazem porque não conseguem separar o que seja o fenômeno religioso da própria Divindade. Elas sabem que eu critico muito a Religião, porém, não sabem que, por razões lógicas, e não de , eu tenho que postular um deus - embora a noção que tenho de deus seja bastante adversa da que tem um religioso. Digo: se você está respirando ou pode mover o braço, isto se deve a um fator biológico e às leis da física, certo! mas o que vem antes disso?! Faço essa digressão até os limites de minha inteligência, passando pela evolução das espécies, big-bang e tudo mais, e constato que se existe um átomo, algo deve estar por trás disso, visto que, logicamente, o átomo não poderia se autoproduzir. Esse algo incognoscível é o Princípio e o Fim de tudo, como já intuíram nossos antepassados, e, como nas palavras de Platão, é “o motor do universo”. Aí vem o espertalhão e diz “se o átomo não pode trazer a existência a si mesmo, por que deus poderia fazer-se existente antes de qualquer coisa?” A resposta é relativamente fácil: não pode! Se imaginamos que deus precisa também de uma causa para existir, então essa ‘Causa’ é que está no princípio, e ela é deus. A questão é que deus não existe mesmo. Ele não é existência. Essa não é a palavra adequada pra fazer referência a deus; na verdade, nem temos uma palavra ‘perfeitamente’ apropriada. Existência é efeito, deus é Causa Una, e por isso mesmo, tão imperscrutável por nós, que presos no tempo e espaço existencial, só aportamos em nosso entendimento o que pode ser posto sob as noções de causa e efeito. A Religião, por ser fruto da representação humana, só pode produzir uma caricatura de deus. Enquanto isso, cada líder religioso se aproveita para ser o porta-voz da Verdade. Eu teço críticas, na tentativa de desobstruir as vistas daqueles  que, absorvidos por uma cultura, ludibriados com promessas, em busca de seus próprios interesses, ou mesmo por ingenuidade e medo, são levados a comprar o Deus que essa ou aquela religião formatou.

6 comentários:

  1. A idéia de postular um Deus, me parece meio árida, fria, muito ligada ao pensamento.

    O pensamento parece ser o único instrumento que temos para sondar a existência. Creio que não é.

    Para mim, a idéia, que é mais como uma sensação, que tenho de Deus, já que intuo que seria melhor que não tivesse idéia alguma sobre Deus, é Algo ligado à Compaixão e Amor infinitos. Ciente estando que estas palavras hoje em dia estão carregadas de falsos significados.

    Com certeza Deus é algo além do pensamento, da mente e da conceituação. Não tenho a certeza da experiência em mim, visto que ainda vivo, como todos, escravo do mundo dual da mente. Concebo intuitivamente, baseado em sensações além da razão, vivenciadas em breves momentos na vida, quando somos absorvidos por algum momento de extrema beleza e perfeição e compreendemos, para esquecer em seguida, o que é "sagrado" é o que é Deus.

    Nestes momentos, como já vivenciaram e relataram alguns seres excelsos, percebemos que o Deus Verdadeiro, não é separado de nós, mas também é algo "muito maior que nós."

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  2. Também acredito que o pensamento seja incapaz de "sondar a existência" de deus. Embora, qualquer tipo de de experiência pessoal e mística possa, muito menos, trazer à luz essa Verdade, pelo simples motivo de ser puramente uma admissão particular, subjetiva. O postulado lógico de deus pode ser apreendido por qualquer dos seres racionais, já o projeto dos espiritualistas sequer deve/pode ser explicado ou demonstrado. Enfim, como nas palavras de Kant: nossos dados naturais de razão e experimentação jamais poderão se transformar num saber [de deus], a nós, nos caberá "enquanto existirmos" apenas a suposição de um ser supremo...

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  3. Apontando o pensamento como ineficaz para demonstrar Deus, e a experiência pessoal como subjetiva demais para obter o crédito alheio, talvez Deus seja mesmo único para cada um...

    Hoje (de uns 4000 anos para cá) fica mesmo difícil desvincular Deus da coletiva-falsa-ideia-possível que a sociedade monta e desmonta a respeito do Ser por trás da grande pena, mas é justamente unindo, com preciso equilíbrio, a razão e subjetiva experiência, que torna-se mais fácil pretender um Deus verdadeiro-individual, puro como Ser, de cada um como nos agrada - porque parece que para ser quisto de verdade, e ser visto como possível, Deus tem que nos agradar.

    Grande problema é quando, ao pressupor que atingiu o equilíbrio máximo, alguém se empenha em "pregar" este equilíbrio para que todos vejam como ele e alcancem a mesma "visão iluminada" que tem, na pretensão de tornar o Deus verdadeiro-individual em Deus verdadeiro-coletivo e único para todos...

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  4. É exatamente isso, Ser Inquieto.. Outro "probleminha" é quando essas 'visões iluminadas' se institucionalizam, passando a dar lucro a seus fundadores..

    ps: seu comment me lembrou a citação de Kant que deixei no seu Facebook, seguido do meu parecer sobre o mesmo..

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  5. dizer que deus existe ou não, é algo impossível para o atual nível de compreensão humano, ainda nos prendemos a logica e a física, oque seria deus vai alem desses termos criados pelos próprios humanos, é como tentar contar até 1.000, com uma inteligencia que não passa de 3 casas decimais (100).

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  6. Concordo com vc, Amendoim. É por isso que não aceito nenhum tipo de pré-formatação do que seja o divino (é o que os religiosos fazem), prefiro deixar essa ideia na esfera do mistério, priorizando a não-conceituação; pairar na penumbra da dúvida e do questionamento (é o que os filósofos fazem).. =]

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