sábado, 20 de agosto de 2011

ONDE ESTÁ A SUA FÉ?

O mundo está caótico é o que dizem. Esse discurso, muitas vezes, só serve para propagar um sentimento de lástima e de desesperança. E vejo as pessoas perguntando a si mesmas se, em meio a tanto mal, desordem e corrupção, ainda vale a pena ser íntegro e honesto. Vejo gente dizer-se tão decepcionada com seus pares que preferem ter maior apreço ao 'fazer e ser' dos bichos de estimação que dos humanos. Postura um tanto quanto animalesca pro meu gosto! Mas, sempre aparece um e outro sujeito com a fácil solução: Aceita o Salvador, amigo! Esse cheios-de-fé, resignados, projetam-se na contemplação de um Novo Lar, onde tudo será perfeito e lindo para sempre. Afinal, todos os males já estavam previstos, e são o prenúncio do fim-dos-tempos, é o que dizem; - Negam a própria existência em função de uma outra, ancorada no porvir – niilistas modernos que são... Há também os que querem fazer com que tudo retorne aos tempos antigos.  - Antigamente é que era bom.  - O mundo de hoje está perdido! São pessoas que repudiam tudo que é novo, diferente ou reflexivo. Apontam o dedo aos pecadores, e logo se colocam num patamar elevado e irrepreensível, já que seriam os únicos a, ainda, guardarem os melhores valores: antigos e sagrados. Acreditam que o mundo está pervertido; a promiscuidade tem se alastrado; as mulheres não se dão mais o valor; a homossexualidade se multiplica dia a dia. Mas nunca pararam pra pensar que prostitutas ou homossexuais existem desde que o mundo é mundo. São pessoas também; bem ou mal, são as suas condições. Outrora e agora. Vamos apedrejá-los? queimá-los na fogueira? depreciá-los? apenas expurgá-los do céu? Quanta bobagem!!! Novamente, a Religião incrustada nessa mesquinhez conceitual e atitudinal.
Precisamos pensar mais no mundo de hoje, tal como ele é; do modo como se apresenta. O pensamento de 2 e 4 mil anos atrás não pode transformar a nossa realidade. Não adianta querer retorcer o mundo para que ele caiba dentro de conceitos e princípios arcaicos que um dia foram compulsoriamente agrupados num livro - e que, em algum momento pode até ter sido útil. Nós precisamos nos repensar como sujeitos históricos e co-responsáveis por melhorar o mundo atual, se é que realmente ele anda de mal a pior. Repetir jargões e pessimismo não nos levará a lugar algum. Não podemos voltar no tempo, mas podemos prosseguir, provocar mudanças a partir da reflexão sobre  que tipo de pessoas queremos ser, ou, em que espécie de mundo queremos viver. Quem considera que só há sentido nessa vida se ela estiver assentada na ideia de uma vida futura, metafísica, paradisíaca, é porque já entregou os pontos, perdeu a fé na vida real , nos homens e no Amor. São sujeitos que só pensam na magnífica sobrevivência do seu 'eu' em um lugar além-de-aqui, um paraíso preparado para os 'santos'. Mas, este mundo é dos vivos, dos que aqui obtém o seu sentido de viver, dos que entendem a realidade como uma criação coletiva e partilhada: ação, reação, consequência, reformulação. Isto tudo é o espaço daqueles que aqui se nutrem do prazer e da dor de serem vítimas e algozes do devir. 

A NÃO-EXISTÊNCIA

As pessoas que perguntam se eu acredito em deus, o fazem porque não conseguem separar o que seja o fenômeno religioso da própria Divindade. Elas sabem que eu critico muito a Religião, porém, não sabem que, por razões lógicas, e não de , eu tenho que postular um deus - embora a noção que tenho de deus seja bastante adversa da que tem um religioso. Digo: se você está respirando ou pode mover o braço, isto se deve a um fator biológico e às leis da física, certo! mas o que vem antes disso?! Faço essa digressão até os limites de minha inteligência, passando pela evolução das espécies, big-bang e tudo mais, e constato que se existe um átomo, algo deve estar por trás disso, visto que, logicamente, o átomo não poderia se autoproduzir. Esse algo incognoscível é o Princípio e o Fim de tudo, como já intuíram nossos antepassados, e, como nas palavras de Platão, é “o motor do universo”. Aí vem o espertalhão e diz “se o átomo não pode trazer a existência a si mesmo, por que deus poderia fazer-se existente antes de qualquer coisa?” A resposta é relativamente fácil: não pode! Se imaginamos que deus precisa também de uma causa para existir, então essa ‘Causa’ é que está no princípio, e ela é deus. A questão é que deus não existe mesmo. Ele não é existência. Essa não é a palavra adequada pra fazer referência a deus; na verdade, nem temos uma palavra ‘perfeitamente’ apropriada. Existência é efeito, deus é Causa Una, e por isso mesmo, tão imperscrutável por nós, que presos no tempo e espaço existencial, só aportamos em nosso entendimento o que pode ser posto sob as noções de causa e efeito. A Religião, por ser fruto da representação humana, só pode produzir uma caricatura de deus. Enquanto isso, cada líder religioso se aproveita para ser o porta-voz da Verdade. Eu teço críticas, na tentativa de desobstruir as vistas daqueles  que, absorvidos por uma cultura, ludibriados com promessas, em busca de seus próprios interesses, ou mesmo por ingenuidade e medo, são levados a comprar o Deus que essa ou aquela religião formatou.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

AMOR DE SI

Em minha busca silenciosa por conhecimento deparei-me com a Filosofia. Não que ela já não tivesse sido apresentada a mim. Mas da forma como tinha sido, eu a ignorei, ou melhor, eu a repudiei, ela e seus assombrosos pensadores. Puro preconceito. Um dia, e não faz muito tempo, por conta própria, encontrei Jostein Gaarder, que me revelou o escopo filosófico. Ele não só me falou da história da filosofia, como também, me convidou a filosofar. Foi, assim, que abri os olhos para a sabedoria que a mesma continha. Estudando autonomamente, descobri nela uma forma muito empolgante de se viver, de enxergar o mundo, de encarar a vida. Apropriei-me de uma liberdade tal que eu não conheci em outros tempo-espaços. Porque isso me fez tão bem, tenciono, desde então, compartilhá-lo com o maior número de pessoas que puder. Mas não me iludo. Sei que aquilo que se agigantou diante de mim, e de certa forma, me transmutou, pode não ter o mesmo efeito nos outros. Chegar à Filosofia era o reflexo de minha procura contínua por saber - não que a Filosofia (ou toda sua produção histórica) seja o saber último das coisas, mas porque é, ela mesma, em suma, a própria busca pela sabedoria última das coisas:  a essência, o Ser.
Um amigo me disse não ver nada de encantador no pensamento filosófico - coisas que eu havia lhe mostrado. Ele também achou um absurdo o meu recente desapego às tradições cristãs. Julgou que eu tinha me tornado um 'fraco'. Encontrado algo em que me apoiar. Rendido ao ego. Que agora, eu era o centro de mim. Naquele momento, eu só respondi, entre risos, que não conhecia ninguém que não fosse o centro de si. Foi pouco. Devia ter lançado a retórica “Qual destes está mais voltado para o próprio ego: aquele que se ocupa em amar a vida e viver, conscientemente, o melhor de sua breve existência, ou, aquele que intenta garantir a transcendência do seu ‘eu’ após a morte?" Tão incônscio do seu fim, este último, deseja, com todas suas forças, uma salvação. Sem perceber que toda essa ideia de 'salvação' emerge da voz altiva de um ego desesperado gritando: Eu quero viver eternamente!