domingo, 15 de maio de 2011

QUANTO VALE O DISCURSO CIENTÍFICO?

O discurso científico não tem, a priori, valor de verdade em maior proporção que os discursos não-científicos. Trata-se de um consenso entre a comunidade científica de fazer valer como tal, a apresentação dos meios, métodos e resultados de uma pesquisa, sob a estética de um discurso marcado por características como: a objetividade, a impessoalidade, a ausência, ou o enfraquecimento da presença do eu-enunciador em seu respectivo enunciado. Com isso, os cientistas querem fazer parecer que suas descobertas são a mais perfeita tradução da realidade, e desse modo, inquestionáveis. Entretanto, essa intenção revela-se paradoxal, já que o próprio esforço em caracterizar o discurso científico, dirimindo as marcas textuais que exporiam o enunciador, denota um sujeito produtor deste discurso, que, obviamente, teve de fazer essas e outras escolhas, inclusive, do tema, do foco, da seleção lexical, etc.
A despeito do que querem os cientistas, a validade de um texto discursivo parece estar baseada na força e na qualidade de sua argumentação perante seus interlocutores, ou seja, o quanto ele obtém de adesão por parte daqueles que o leem. Nesse sentido, o discurso de um blogueiro evangélico, carregado de subjetividade (dada sua paixão e crença) pode ter efeito de ‘ciência’ para algumas pessoas. Além disso, textos como os do biólogo Richard Dawkins, que elucida a complexa Teoria da Evolução e, nos quais, as marcas de pessoalidade são muito fortes, alcançam notoriedade e respeito mundial entre cientistas e não-cientistas, por mérito de sua capacidade de exprimir a realidade.
Assim, podemos dizer, que um discurso textual adquire valor de ‘científico’ (expressão da verdade) não pela forma com que é produzido, mas, sobretudo, pela qualidade da produção – qualidade que está logicamente subordinada a uma avaliação subjetiva, isto é, a daquele a quem o discurso é direcionado, ou de qualquer outro, que seja atingido por tal discurso e com ele interaja. Sendo assim, a capacidade de reflexão, o conhecimento (linguístico, enciclopédico e interacional), e principalmente, o posicionamento crítico, são os melhores (senão os únicos) aliados dos sujeitos, nessa árdua tarefa de avaliação, e consequente, valoração dos discursos - sejam eles científicos ou não. 

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