Mostrando postagens com marcador verdade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador verdade. Mostrar todas as postagens

sábado, 21 de janeiro de 2012

A ARTE DE ILUMINAR


Tenho pensado que escritores como Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Friedrich Nietzsche, Guimarães Rosa, Jorge Luis Borges, todos são iluminados. Porque iluminação não é lá uma coisa extraordinária, é apenas a constatação que somos isto: uma consciência que não sabe o que é nem pode descrever-se. É impossível nomear o que somos e pronto! Temos consciência disso (sem trocadilho). Mas alguns são capazes de transformar esse grande vazio em Arte: na letra, no pincel, nas formas, nos sons, no movimento, etc., como meio de aplacar a própria dor existencial. Continuamente nos identificamos com o Eu, onde nasce essa dor insolúvel. Não podemos nos livrar da dor, mas conscientizar-se dela é um caminho para a elevação, o desprendimento. Então, os grandes artistas captando essa enorme verdade, fazem-se instrumentos desta, aproximam-se de dizer artisticamente o indizível. O escritor não pode conceituar o Mistério, porque conceituá-lo o mataria, mas com talento, consegue-se apontar para ele e fazer o leitor viajar junto, contemplando a Beleza, o Imensurável, o Incognoscível. Ali, nos silêncios dos finais de frase encontra-se a pausa, a mudez, o divinal. Logo depois se prossegue. Porém, um só instante dessa lucidez e constatação é suficiente para entender para sempre o que É.
Diz-se que a iluminação pode ser alcançada partindo de um pequeno frame em que se toca o Algo, e daí seguir-se ampliando esse estado de presença consciente. Que me desculpem os espiritualistas, sou da opinião de que o iluminado não pode se fazer. Ele é feito. Apenas isso: feito para iluminar. Àqueles que, como eu, não são feitos, resta-nos ficar à margem da iluminação – o que não é ruim. Porque se se aceita a condição de não-iluminado, está rompido o paradoxo. Embora, nosso ego seja matreiro, nossa mente, traiçoeira – arruma modos de nos enredar de novo, de gerar o conflito interno. Minha vigilância consiste em ficar próximo a esses mestres da grande Arte.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

À IMAGEM E SEMELHANÇA DE QUEM?

Ao homem que ascendeu de uma paralisia mental acerca das questões mais complexas que o rodeia para uma postura crítica da realidade, é-lhe dado o prazer de entender e explicar coisas à luz  de uma sabedoria lógico-racional adquirida conscientemente - coisas que outrora estiveram confortavelmente alojadas no calabouço da religião, mas que agora inquieta-lhe a alma: "buscadora veraz de uma veracidade verossímil". Pensando assim, tencionamos articular uma resposta para o como chegamos a uma imagem ou caracterização de deus.


Na nossa cultura, vemos deus através do prisma da religião cristã. Segundo essa tradição, deus teria se revelado a nós na pessoa de Cristo: humano e divino simultâneamente, do qual só temos conhecimento de três anos de sua vida em registros históricos. O fato dele ter encarnado em um homem e não numa mulher influencia drasticamente na imagem que fazemos de deus, ainda que, muitos de nós resistamos à conjectura de que deus possua sexo, ou melhor, gênero masculino ou feminino. Bom, isso é mero detalhe se comparado aos vários exemplos contidos na narrativa bíblica de um deus com características humanas. O deus lá representado é um deus que possui cabeça, mãos, pés, costas; um deus que se ira, se arrepende, se vinga, se entristece; um deus que abençoa e recompensa o bom, e, despreza e condena o mau (presenteia com a vida eterna ao que fizer a SUA vontade e rejeita e lança no eterno sofrimento ao que não a fizer) - além de tudo, um deus egoísta, mesquinho. Quem conhece um pouco dos textos canônicos vai lembrar destas paráfrases que exemplificam algumas ordens divinas ali descritas: /Moisés, separa o povo por etnia, e mata todos quantos não forem israelitas. /Josué, separa o povo por crença, e aqueles que não adoram ao deus de Abraão devem ser mortos: homens, mulheres, crianças; tome teu exército e destrua também os bens e os animais desses homens, pois não são dignos do reino./ - ou seja, um deus completamente  preconceituoso, partidário, segregacionista. Mas haverá aqueles que queiram contestar dizendo que essas coisas e atitudes de deus  estão no Velho Testamento, e completariam "Cristo regovou a Lei". Isso é o mesmo que dizer: 'deus revogou a si mesmo'. Por quanto, se a Lei  que  Moisés escreveu era advinda de Deus, logo era a Lei de deus, sendo assim, ela era boa, certo? como pode o deus que a criou e ordenou aos homens, simplesmente contrariar-se quando encarnado  no Cristo? Então, só pra terminar essa curta lista de atributos humanos no deus que a religião inventou, temos de afirmar que ele é também contraditório e indeciso. Talvez ele não soubesse que a primeira Lei não seria eficaz e de última hora quis reverter tudo na cruz. Nesse caso, a onisciência e a onipotência desse deus nunca existiram.
Ora, não nos parece estranho um deus demasiadamente humano como esse? Um deus que usa os mesmos pesos e medidas que nós, homens imperfeitos, não é tão pequeno quanto? não é tão limitado quanto? Sim, há de parecer estranho e  inconcebível para aquele, que dizíamos no primeiro páragrafo deste texto, mas para o outro, imergido numa fé cega, é pura bobagem questionar-se a respeito. Vejamos que esse deus bíblico não pode ser sequer uma caricatura do deus Supremo, Essência do Universo, Causa Primal, Fonte Criadora, Princípio Uno da existência. E a razão por trás desse estereótipo medíocre de deus é nossa própria limitação em depreendê-lo tal como ele é. Dito de outro modo, é natural o homem não poder ter idéias não-humanas para caracterizar deus, para caracterizá-lo divinamente teria de possuir idéias divinas, o que resultaria em ser, o homem, igual a deus.  Assim, nossas tentativas de descrever deus e seus atributos só pode ser equivocada, muito provavelmente, igualável à própria caracterização humana. (Se uma girafa pudesse idealizar um deus, provavelmente ele seria pescoçudo e de manchas marrons...). Os homens 'fizeram' deus à sua imagem e semelhança. Está escrito!